quarta-feira, 27 de junho de 2012

A caixa que não é a de Pandora

Dia e noite, noite e dia. Café com leite, pão e bolacha. Trabalho, trabalho e trabalho. Feijão com arroz, purê e salada. Passa um...passa dois...passa três...passam muitos...trânsito lento. Tic-tac, tic-tac, tic-tac. Passos apressados. Num abre e fecha de compassos desordenados. Tudo preto e branco. Tudo cinza. E lá está ela, para lá e para cá. Sem destino. Sem rumo.

Alguns passam por ela, mas não escuta a linda canção que sai dela. Outros, nem sequer a vê e chega a chutá-la. Àquelas que a vê, mas não causa expressão alguma, tratando como um mero lixo casual.

No meio de toda essa confusão rotineira, aparece uma menina. Com o seu vestidinho vermelho, meias brancas, sapatos pretos e duas tranças, uma de cada lado da cabeça, presa por um laço dourado. Quebrando todo o tom acinzentado em sua volta. Uma boneca! Mas ninguém a nota. Ela passa despercebida diante da selva que a cerca. Mas ela ainda não entende muito do mundo. Ela só compreende o seu.

A música entra em seu ouvido, deixando-a curiosa e querendo saber a sua origem. Ela procura, e nada. Olha para lá, e para cá, e encontra uma misteriosa caixinha.

- Que caixinha mais linda! Que bela canção!

Baila um pouco com ela, ao som da canção. Somente, então, as pessoas a olham, expressando reprovações em seus rostos. Ela para de dançar. Chacoalha a caixinha, e nada de barulho. Admira-a!

- Tão colorida! Tão bela! O que será que tem dentro dela?

Quando ela vai abrir a pequena caixa. Sua mãe aparece.

- Que coisa é essa? Já disse que não é para pegar coisas do chão!
- Mas olha, mãe! É tão bonita! Olhe que lindas cores ela tem.
- Menina! Não tem cor nenhuma aí. está ficando maluca?
- Escute! Que canção linda que sai dela, mãe!
- Que canção? Hoje você não está bem. Jogue isso fora!

A menina não contendo a curiosidade, abre a caixa, e se maravilha com a beleza de seu interior.

- Mãe! Olhe! Ela está brilhando!
- Deixe de besteiras!

De repente, filetes de luzes coloridas saem de dentro da misteriosa caixinha. Tudo a sua volta se torna estático, imóvel. O cinza intenso continua. Somente há cor e mobilidade na pequena menina. Uma voz doce e meiga sai de dentro do pequeno objeto.

- Não se assuste menina! Somente aquele que tem o coração puro e ingênuo é capaz de enxergar a beleza que trago comigo. Assim, concedo a você um pedido.

Ela pensa, pensa e pensa.

- Eu queria que todo mundo fosse rico para poder comprar tudo aquilo que quer e ser feliz.
- Minha pequena, esse pedido eu não posso realizar, se não tiver essa desigualdade, o sistema capitalista não funciona. Você é muito nova para entender disso.
- Ah! Então eu quero que as pessoas sejam mais humanas uma com as outras. Que todas as pessoas más, fiquem boas.
- Esse, também eu não posso realizar. Não consigo mudar o caráter das pessoas. Se elas são ruins, foi porque elas escolheram ser assim. Não posso mudar as suas escolhas.
- Entendo, então, eu quero que o mundo seja mais limpo, sem poluição.
- Menina, você só faz pedido impossíveis. Eu posso muito bem limpar, deixar sem poluição, mas amanhã, estará tudo sujo novamente.  É isso que você quer?
- Não!...Já sei! Eu quero que você espalhe pelo mundo, essa canção e o colorido que traz contigo, colocando alegria e felicidade no coração das pessoas.

Assim, foi feito. Mas nem todos absorveram completamente a ideia. Alguns conseguiram escutar a canção, outras não. Alguns conseguiram ver o colorido, outros não. E tem aqueles, denominados "loucos", que causam estranheza para a sociedade, que por mais contraditório que seja, conseguiram escutar a canção e ver o colorido do mundo. Outros, não escutaram e nem viram nada, continuando a viver o mundo preto e branco.

Esse texto também se encontra no site: http://www.recantodasletras.com.br/redacoes/3747424
Imagem retirada do site: http://www.muitolegal.net/2009/08/30-incriveis-fotos-coloridas-como-arco.html

2 comentários:

Ci disse...

Que lindo Luciana!!!

Luciana disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.